segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Reflexões sobre o Anti-Manifesto de Tomaz Tadeu da Silva e Sandra Corazza

Reflexões sobre o anti-manifesto de Tomaz Tadeu da Silva e Sandra Corazza (1)

Autor: Kairós Malatesta

La imposibilidad de penetrar el esquema divino
del universo no puede, sin embargo, disuadirmos
de planear esquemas humanos, aunque nos
conste que éstos son provisorios.
J. Luis Borges


A leitura do texto provoca uma interrupção de proliferação de subjetividade. A transmissão do saber por meio da dialética dos significados, torna-se um diálogo sem comunicação. A totalidade dos desejos perde a verdade e razão.

A escolha dessas palavras, encontradas nas primeiras linhas do texto, é intencional.
O que tentarei demonstrar nesta breve reflexão é a característica niilista e aniquiladora do artigo e a atual necessidade de subjetivar e objetivar a ação política e crítica.

A não existência da história como processo lógico e evolutivo, a sua impossibilidade teleológica são dados assumidos desde o século XIX, e os horrores que desencadearam tais posições éticas e filosóficas são testemunhados na história do sec. XX.
O manifesto de T. da Silva - que não deixa de ser um manifesto como na maior tradição futurista ou dadaísta, parece o desfile póstumo da alta moda filosófica francês fin de sécle. Esteticamente bonito, tecnicamente perfeito em seus dispositivos de comunicação erudita, recalca efeitos barrocos e rococó.

Bem sei que pouco sei da riqueza dos mestres pós-modernos (Lyotard, Foucault, Deleuze,...), mas o respeito por eles e sagrada dúvida, me leva a acreditar que os trabalhos por eles desenvolvidos não terminam onde o texto encontra o seu clímax. Este cume é mais uma apologia ao vazio que abre o caminho para a barbárie (Matei), uma exaltação do fatalismo e do indeterminismo que considero o principal objetivo de mindnumbing da indústria cultural moderna.

Este o nosso pão cotidiano, o que o convento do “pensamento crítico” nos passa e inculca.

O intelectual T. T. da Silva, tornou-se um burguês abastado, que pode permitir-se de mediar o seu contato com uma pseudo realidade por meio de livros, assistentes e funcionários. Como um Odisseu acadêmico, percorre a sua viagem cognitiva bem amarrado ao mastro do estatus quo epistemis, surdo aos perigos e riquezas das sereias francesas. Uma experiência inútil, assim como a coragem dos mestres pós-modernos por ele não passa de um ensinamento abstrato, não revolucionário.

Adorno (Dialética do Esclarecimento) diz que “... a era hitlerista nos ensinou ... como é estúpido ser inteligente” ... “Os inteligentes sempre facilitaram as coisas para os bárbaros...”. A constatação da dissolução do sujeito e objeto, do fora e do dentro, “este estar imersos acaba com toda representação de critérios metodológicos” (T. Negri), não pode justificar a submissão ao biopoder das oligarquias capitalistas.

A urgência de subjetividades de oposição, de novos métodos de luta e análise histórico-conjectural é impelente. A idade média do sec. XXI patrocinada pelo não lugar que chamamos de Império, representa um evidente regresso histórico. Se a ratio burguesa pretende a universalidade, dialogar com um fascista é quase impossível, pois ele é inacessível a razão porque só a enxerga na capitulação do outro (Adorno). “O sujeito não existe. O sujeito é um efeito da linguagem” diz da Silva, mas o efeito das bombas dos B-52 é a eliminação tanto dos sujeitos quanto da linguagem.

Nasce assim a exigência de uma militância entendida como complexos (: aquele que se tece em conjunto) de luta, que torna as origens do espírito marxista com o aparente paradoxo de “um método relativista que torna-se uma posição absoluta” (Negri). Este um impulso radical que consiste em uma mudança total nas esferas intelectual e material, nas relações sociais e nas instituições. Se o positivismo e a sociologia de Comte ou Manheim pretendia em primeiro lugar mudar as consciências intelectuais e depois as instituições, agora bem sabemos que as tecnologias de controle são obstáculo para a mudança das duas.

Pregar a não-violência é pregá-la só aos que a praticam (Marcuse). A violência simbólica e material do sistema capitalista alavanca energias e tempo neste “estúpido” impasse intelectual. “Diante da idea de desafio, é bom saber que há risco do erro ontológico, da ilusão, e que o absoluto é, simultaneamente, o incerto.” (Morin). Mas se “o futuro encontra-se problematizado, e ficará assim para sempre” (Patcka), então é necessário “pensar e viver sem fundações ltimas” (da Silva) mas operando ativamente para construir os alicerces, as fundações primeiras: um esforço em direção de um mundo melhor para todos e para todos os mundos possíveis. “Exaltar o caráter humano, profano, terreno, de nossos objetos. Assumir nossa responsabilidade na sua criação.” diz da Silva no fim do texto.

Para concluir precisamos de uma guerrilha menos intelectual, e mais revolucionária [ação direta; sabotagem ludista; greve geral; manifestações e paralisações metropolitanas], consciente dos perigos e dos custos materiais para que no futuro o sangue derramado seja uma lembrança nas bandeiras vermelhas e não mais o triste cotidiano das indústrias de morte. “A revolução será sempre tão violenta como a violência que a provocou, ou seja, como a que exerceram os grupos dominantes.” (Marcuse citando Engels)

(1) O "Manifesto por um pensamento da diferença em educação", de Tomaz Tadeu da Silva e Sandra Corazza, pode ser lido na íntegra AQUI.

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