quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Encontro com Castells e livro Comunicación y Poder

Bem, a típica coisa que nao me levaria a escrever. Mesmo porque já sabia que ia acontecer e nao lhes propus uma oportunidade de voz. Por esquecimento, no meio da vida atabalhoada. Desculpas! Assim mesmo, agora, vou contar-lhes. Estando ontem em posicao privilegiada junto a Manuel Castells, tive que indagar-lo sobre algumas de suas idéias fundamentais em seu novo livro: Comunicacao e Poder (já falarei dele). A curiosidade era que, agora que ele considera a sociedade estruturada em rede com dispositivos de poder difusos que estao finalmente localizados no corpo (nao estao delirando, é Foucault e devidamente ditado), nao estaría "equivocado" o emprego constante do "conceito" de massas (ele usa essa palavra para criar alguns conceitos chave, como autocomunicacao de massas, por exemplo)? Humilde e amavelmente contou que é uma das partes que deseja trabalhar logo. Citou (verbal e também já textualmente) a "multidao" de Negri e Hardt como algo satisfatoriamente exitoso no campo teórico.
Sua última obra foi publicada esta semana na Espanha, com o título Comunicación y Poder (ja existia a versao em ingles desde alguns meses). Como sei que Castells nunca incorporou a bibliografia do Reflexoes Contemporaneas, me parece uma excelente oportunidade de inclui-la. Os sociólogos locais (leia-se espanhóis), alguns com argumentos, outros sem, nao costumam respaldar Castells. Há exemplos claros de guerra por prestígio, encampada apenas dentro das polidas quatro linhas acadêmicas. Nao vem ao caso. O que sim importa é que, como idéias, soma em trazer com bastante concretudo (ele adora dados...)muito daquilo que já defendíamos teoricamente (acabo de afirmar nossa ignorância: nao nos interessa mudar de opiniao e escutamos aquilo que queremos escutar. oras, é o princípio da comunicacao!)
Aposta por uma convergência de política, economia (diz que a economia deve politizar-se), tecnologias (nao-deterministas), sociologia e psicologia cognitiva/neurologia (leia-se Antonio Damasio, seu vizinho de sala na Califórnia) para elucidar o funcionamento do poder em sua forma atual mais potente: a comunicacao. Poderia-se dizer igualmente que é uma teoría comunicativa com as bases supra-citadas.
Se a coisa é como afirma John Bargh, que nosso corpo inconscientemente processa 11.000.000 de bits por segundo enquanto conscientemente seu máximo de processamento nao passa de 50 bits por segundo (durante uma leitura extremamente concentrada, por exemplo), existe todo um complexo meio a ser considerado quanto às maneiras predominantes que jogam na hora em que o corpo absorve informacoes, comunica-se e por fim transforma o resultado de todos os bits conscientes e inconscientes em um plano de acao, ou melhor, quando tudo se transforma em (bio)política.
Depois disso, talvez uma leitura: Zizek, "A visao em paralaxe", para ver alguns dos atuais conflitos entre a psicanalise e o cognitivismo.

Um comentário:

silvio disse...

As teorias de Império, Multidão e Comum (em breve) vem provando sua raiz absolutamente materialista. Quer dizer, não se tratam de teorias. Mas de nomear as coisa da realidade.Vários são os mundos compossíveis, como disse Lazzarato em sua nomadologia. Mas as multidões lutando pelo comum no contexto imperial tem para mim cheiro de mais possibilidades de criar uma mundo justo.