domingo, 13 de dezembro de 2009

Revista Polêmica

IMAGEM - Caderno da revista eletrônica Polêmica, da UERJ.
n.8(4) - ano 2009

QUESTÕES CONTEMPORÂNEAS A PARTIR DE GILLES DELEUZE

Apresentação do Caderno Imagem
Rodrigo Gueron

Gilles Deleuze anticapitalismo e ativismo politico
Rodrigo Gueron

Deleuze, migrações e racismo
Leonora Figueredo

Deleuze, a antropologia imanentista
Giuseppe Cocco

Funk: nomadismos, inadequações e instaurações estéticas na cidade-tudo.
Aldo Victorio

Deleuze, Guattari e as Cidades
Gerardo Silva

Acontecimentos nas metrópoles
Barbara Szaniecki

http://www.polemica.uerj.br/8(4)/cimagem/index.htm

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Livro:::O Estado Penal e a Sociedade de Controle




A finalidade desta obra é analisar, através do programa Delegacia Legal do governo do estado do Rio de Janeiro, a sociedade de controle e o estado penal. Com recurso a uma pesquisa intervenção, desenvolveu-se uma cartografia das forças que atravessam tal programa e uma problematização da função demandada dos especialistas que o operam.

São especialmente focalizados, entre os especialistas, os psicólogos contratados para a aplicação do programa. Estes, com seus discursos de suposta neutralidade, objetividade e imparcialidade, legitimam a convergência, cada dia mais acentuada, das políticas penais às sociais.

A tendência mundial de redução das políticas sociais do Estado em decorrência do neoliberalismo e sua contrapartida necessária, o aumento vertiginosos do investimento nas políticas de segurança, produzem o que Loïc Wacquant e outros estudiosos de criminologia denominam estado penal. Através deste, mecanismos disciplinares e de controle conduzem à gestão da força de trabalho excedente.

O livro sustenta a visão de que a insegurança pessoal e social encontrada no mundo contemporâneo é alimentada por essa política repressiva de gestão da oferta de mão-de-obra. Daí decorrem a instalação de um estado penal em detrimento de dispêndios na área social, a dominância de subjetividades na política de repressão policial, a ameaça permanente de condenar a população trabalhadora à condição de consumidor falho, de habitante descartável.

Sem problematizar essas questões, a mídia em geral, de forma simples e conveniente, vem associando a insegurança pessoal e social à violência urbana e esta, historicamente, à pobreza. Isso forma o tripé homicida insegurança/pobreza/violência, que dizima parte da população jovem, pobre e negra do estado do Rio de Janeiro nos dias atuais.

domingo, 6 de dezembro de 2009

David Lapoujade no Brasil

David Lapoujade, filósofo e professor na Sorbonne (Paris 1), foi aluno de Gilles Deleuze e organizou uma coletânea de textos de seu mestre, intitulada "A ilha deserta", publicada no Brasil pela editora Iluminuras, traduzida sob supervisão de Luiz Orlandi.
Durante sua vinda a São Paulo, no mês de setembro, Lapoujade realizou uma aula no Instituto Tomie Ohtake "Simpatia e Conhecimento" e, proferiu uma palestra "Deambulação, devir, simpatia" no SESC da Avenida Paulista, durante o evento "Ocupação Ueinzz".

Seguem abaixo os links para o arquivos em áudio e vídeo:

"Simpatia e Conhecimento" - 18/09/2009
http://www.4shared.com/dir/15681624/71a72a38/sharing.html
"Deambulação, devir, simpatia" - 20/09/2009 (em francês)
http://www.tvaovivo.net/sescsp/ueinzz/default_19.aspx

domingo, 29 de novembro de 2009

TE QUIERO

Poesía: Mario Benedetti
Música: Alberto favero
Arreglo: Liliana Cangiano
Interpretado por el Orfeón Universitario Simón Bolívar en ocasión del 38° Aniversario de la USB.
Directora: María Guinand
Lugar: Atrio de la Biblioteca Central, USB, Sartenejas, Caracas, Venezuela





Te quiero

Tus manos son mi caricia,
mis acordes cotidianos;
te quiero porque tus manos
trabajan por la justicia.

Si te quiero es porque sos
mi amor, mi cómplice, y todo.
Y en la calle codo a codo
somos mucho más que dos.

Tus ojos son mi conjuro
contra la mala jornada;
te quiero por tu mirada
que mira y siembra futuro.

Tu boca que es tuya y mía,
Tu boca no se equivoca;
te quiero por que tu boca
sabe gritar rebeldía.

Si te quiero es porque sos
mi amor mi cómplice y todo.
Y en la calle codo a codo
somos mucho más que dos.

Y por tu rostro sincero.
Y tu paso vagabundo.
Y tu llanto por el mundo.
Porque sos pueblo te quiero.

Y porque amor no es aurora,
ni cándida moraleja,
y porque somos pareja
que sabe que no está sola.

Te quiero en mi paraíso;
es decir, que en mi país
la gente vive feliz
aunque no tenga permiso.

Si te quiero es por que sos
mi amor, mi cómplice y todo.
Y en la calle codo a codo
somos mucho más que dos.

Te quero

Tuas mãos são minha carícia
Meus acordes cotidianos
Te quero porque tuas mãos
Trabalham pela justiça

Se te quero é porque tu és
Meu amor, meu cúmplice e tudo
E na rua lado a lado
Somos muito mais que dois

Teus olhos são meu conjuro
Contra a má jornada
Te quero por teu olhar
Que olha e semeia futuro

Tua boca que é tua e minha
Tua boca não se equivoca
Te quero porque tua boca
Sabe gritar rebeldia

Se te quero é porque tu és
Meu amor, meu cúmplice e tudo
E na rua lado a lado
Somos muito mais que dois

E por teu rosto sincero
E teu passo vagabundo
E teu pranto pelo mundo
Porque és povo te quero

E porque o amor não é auréola
Nem cândida moral
E porque somos casal
Que sabe que não está só

Te quero em meu paraíso
E dizer que em meu país
As pessoas vivem felizes
Embora não tenham permissão

Se te quero é porque tu és
Meu amor, meu cúmplice e tudo
E na rua lado a lado
Somos muito mais que dois.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Desobedecer

"Espero que tenhamos crescido para nos tornarmos mais desobedientes ainda, porque a vida nesse nosso mundo poderá acabar por causa de muitas ações de obediência."

John Jordan

domingo, 22 de novembro de 2009

PISTAS DO METODO DA CARTOGRAFIA

KASTRUP, VIRGINIA - Organizador
PASSOS, EDUARDO - Organizador
ESCOSSIA, LILIANA DA - Organizador

Pesquisadores que investigam processos nas áreas de saúde, educação, cognição, clínica, grupos e instituições, dentre outros, enfrentam muitas vezes, na escrita de seus projetos, dificuldades em dar conta do item consagrado ao método. Como nomear asestratégias empregadas, quando elas não se enquadram bem no modelo da ciência moderna, que recomenda métodos de representação de objetos preexistentes?

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Cesare Livre!!!



Que a democracia global saia vitoriosa, derrotando as forças da morte imperial.

Caros Companheiros,

O Comitê de Solidariedade à Cesare Battisti foi formado com o objetivo de libertar o preso político Cesare Battisti, através de uma ampla campanha de solidariedade.

O site da internet pode ser acessado através deste link: http://cesarelivre.org/

Nele estão hospedados diversos artigos a respeito do "caso Battisti" que nos permitem observar o caso a partir de vários ângulos. Há, inclusive, um FAQ (Perguntas Mais Frequentes) que explica detalhadamente a história e o andamento do caso.

Nesta quarta-feira, o STF, com o voto do Gilmar Dantas, optou pela extradição de Battisti. Foram 5 votos a favor, 4 votos contra a extradição. O desempate coube ao mencionado Gilmar Dantas. Contudo, também por cinco a quatro, os ministros do STF decidiram que o presidente Lula tem autonomia para decidir se extradita ou não Cesare Battisti.

Nesta terça-feira, Anita Prestes enviou carta ao presidente Lula, subscrevendo carta do Lungarzo, da Anistia Internacional. A carta, que está abaixo, pede a Lula que não cometa o crime de entregar Battsti, como fez o governo Vargas com sua mãe, Olga Benário, e seus familiares.

Espalhem a todos os teus contatos as informações que puderem. E vamos pressionar, em nome da justiça, dos direitos humanos e da vida, pela permanência de Battisti!!!

Fraternalmente,

Silvio Machado

Carta de Anita Prestes (filha de Olga Benário) pedindo a Lula que não entregue Battisti

Tue, 11/17/2009 - 22:11 | by cesare_livre

Exmo. Sr. Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva.
Na qualidade de filha de Olga Benário Prestes, extraditada pelo Governo Vargas para a Alemanha nazista, para ser sacrificada numa câmera de gás, sinto-me no dever de subscrever a carta escrita pelo
Sr. Carlos Lungarzo da Anistia Internacional (em anexo*), na certeza de que seu compromisso com a defesa dos direitos humanos não permitirá que seja cometido pelo Brasil o crime de entregar Cesare Battisti a um destino semelhante ao vivido por minha mãe e minha família.
Atenciosamente,
Anita Leocádia Prestes
_______

*a carta referida pode ser lida aqui: http://www.cesarelivre.org/node/185

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

O fim do capitalismo se aproxima

Tenho pensado se devemos combater o capitalismo com as mesmas armas usadas pelos capitalistas para mantê-lo vivo. Disciplina? Trabalho identificado ao tempo de vida? Definir objetivos e alcançá-los a qualquer preço? E a preguiça? E o tempo de brincar? E o tempo de viver? Já diziam alguns anarco-hippies: existe uma diferença entre vida e sobrevida!!!

Estou animado porque me dei conta, através de algumas leituras e cursos, de que o capitalismo corresponde a uma ínfima parte da vida na Terra. Muito animado mesmo. Por isso vou postar uma pequena resposta do Anselm Jappe, concecida ao site IHU, que tem me animado a buscar os caminhos para efetuar uma história diferente.

IHU On-Line - Por que afirma que o capitalismo é apenas um parêntese na história humana?

Anselm Jappe – Trata-se de uma formulação polêmica, porque o capitalismo existe há, no mínimo, 200 anos nos países desenvolvidos como Inglaterra. Há antecedentes do capitalismo na época da Renascença, remontando ao século XIV. Disse que o capitalismo é um parêntese na história para fazer uma objeção à apologia atual que o vê como uma realização necessária de toda a história. Critico a ideia de que a humanidade e a evolução avançam para algo melhor, e que o capitalismo seria uma espécie de apogeu da humanidade, uma forma de sociedade e de economia que vai permanecer para sempre. Muitas vezes, as apologias do capitalismo são feitas apresentando a democracia como uma forma finalmente encontrada para o convívio dos seres humanos. Assistimos, então, a uma espécie de ontologização do capitalismo. Isso consiste em dizer que pode haver diferentes modelos de capitalismo, mas ele se mantém no mesmo enquadramento do valor, do dinheiro, da democracia e do Estado. Não é apenas o pensamento burguês, mas boa parte também do pensamento que se proclama ser de esquerda, que se converteu a essa ontologização do capitalismo, incapaz de imaginar algo diferente.

Com todas as mudanças propostas, pensam, mesmo assim, se permanecerá numa lógica capitalista ou se não volta a se cair na barbárie e no caos. Muitos daqueles que criticam o capitalismo hoje (como os altermundialistas e associações como a ATTAC e todas aquelas pessoas que se encontram na cúpula do Fórum de Porto Alegre) não o criticam verdadeiramente, porque se limitam a criticar o liberalismo, propondo, como alternativa, um capitalismo mais mitigado.

Em oposição a essa eternização do capitalismo é que falo de um parêntese, dizendo que esse sistema foi o rompimento absoluto com todas as sociedades pré-capitalistas. O capitalismo não é apenas uma sociedade entre outras, constitui-se a fratura mais fundamental da história da humanidade, principalmente porque introduziu um dinamismo e uma orientação que estavam ausentes nas sociedades precedentes, que eram mais estáticas.

O capitalismo não é um destino inevitável

A partir disso, uma das principais características do capitalismo é a resistência ao fato de que a atividade social se entenda como trabalho, e o trabalho como valor, e o valor como dinheiro. Então, tudo isso não é natural, histórico e eterno. Tudo isso veio ao mundo com o capitalismo. Aliás, essa não é uma afirmação de Marx, somente. Há estudos de Marcel Mauss e Karl Polanyi que mostraram o caráter radicalmente diferente das sociedades antes do capitalismo. Não estou falando apenas em sociedade etnológica, como Polanyi demonstrou que, no século XVII, havia lógicas sociais bem diferentes, ou como Thompson demonstrou em sua obra clássica, A formação da classe trabalhadora na Inglaterra.

Tudo isso permite demonstrar os diferentes pontos de vista, não somente marxistas, de que o traço fundamental do capitalismo não é algo natural do ser humano, mas pertence apenas a uma fase determinada da história humana. Deste ponto de vista, podemos dizer que o capitalismo é apenas uma fase da humanidade, e assim como veio ao mundo, pode, também, desaparecer. É claro que não quero dizer que o capitalismo seja um simples “incidente” depois do qual se podem mudar muitas coisas. Essa expressão mostra, simplesmente, que o capitalismo não é, necessariamente, um destino inevitável.
E quando falo em parêntese, não significa que havia uma espécie de sociedade feliz, e o capitalismo chegou como uma “erupção do mal”, e que esse parêntese vai se fechar para reencontrar uma espécie de felicidade. Isso seria muito bom, mas não é o que acontece. O capitalismo vai terminar, e já estamos observando esse fim. Não é algo que irá acontecer de um dia para o outro, mas os sinais de esgotamento são visíveis.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Encontro com Castells e livro Comunicación y Poder

Bem, a típica coisa que nao me levaria a escrever. Mesmo porque já sabia que ia acontecer e nao lhes propus uma oportunidade de voz. Por esquecimento, no meio da vida atabalhoada. Desculpas! Assim mesmo, agora, vou contar-lhes. Estando ontem em posicao privilegiada junto a Manuel Castells, tive que indagar-lo sobre algumas de suas idéias fundamentais em seu novo livro: Comunicacao e Poder (já falarei dele). A curiosidade era que, agora que ele considera a sociedade estruturada em rede com dispositivos de poder difusos que estao finalmente localizados no corpo (nao estao delirando, é Foucault e devidamente ditado), nao estaría "equivocado" o emprego constante do "conceito" de massas (ele usa essa palavra para criar alguns conceitos chave, como autocomunicacao de massas, por exemplo)? Humilde e amavelmente contou que é uma das partes que deseja trabalhar logo. Citou (verbal e também já textualmente) a "multidao" de Negri e Hardt como algo satisfatoriamente exitoso no campo teórico.
Sua última obra foi publicada esta semana na Espanha, com o título Comunicación y Poder (ja existia a versao em ingles desde alguns meses). Como sei que Castells nunca incorporou a bibliografia do Reflexoes Contemporaneas, me parece uma excelente oportunidade de inclui-la. Os sociólogos locais (leia-se espanhóis), alguns com argumentos, outros sem, nao costumam respaldar Castells. Há exemplos claros de guerra por prestígio, encampada apenas dentro das polidas quatro linhas acadêmicas. Nao vem ao caso. O que sim importa é que, como idéias, soma em trazer com bastante concretudo (ele adora dados...)muito daquilo que já defendíamos teoricamente (acabo de afirmar nossa ignorância: nao nos interessa mudar de opiniao e escutamos aquilo que queremos escutar. oras, é o princípio da comunicacao!)
Aposta por uma convergência de política, economia (diz que a economia deve politizar-se), tecnologias (nao-deterministas), sociologia e psicologia cognitiva/neurologia (leia-se Antonio Damasio, seu vizinho de sala na Califórnia) para elucidar o funcionamento do poder em sua forma atual mais potente: a comunicacao. Poderia-se dizer igualmente que é uma teoría comunicativa com as bases supra-citadas.
Se a coisa é como afirma John Bargh, que nosso corpo inconscientemente processa 11.000.000 de bits por segundo enquanto conscientemente seu máximo de processamento nao passa de 50 bits por segundo (durante uma leitura extremamente concentrada, por exemplo), existe todo um complexo meio a ser considerado quanto às maneiras predominantes que jogam na hora em que o corpo absorve informacoes, comunica-se e por fim transforma o resultado de todos os bits conscientes e inconscientes em um plano de acao, ou melhor, quando tudo se transforma em (bio)política.
Depois disso, talvez uma leitura: Zizek, "A visao em paralaxe", para ver alguns dos atuais conflitos entre a psicanalise e o cognitivismo.

Parabéns às cores, sejamos sinestésicos. Valeu Silveira!

Grande Silveira, o cavalheiro mais valente desta tropa quase caída. Quase!
Trazer cores e este desenho ao blog foi uma atitude muito generosa. Lembram, há mais de dois anos, que mexíamos com a idéia de um logo? Estes bits estampados no monitor resgataram a sensacao antiga de fazer revista (ainda nao a coragem de propô-la seriamente, outra vez!).
Uma revisao nos quadros perigosos de polaridades entre modernidade e pós-modernidade só me leva a incluir a anestesia no campo da primeira e a sinestesia na segunda. Sejamos sinestésicos (mas cuidado com o posmodernismo radical, bitte!)! A sinestesía talvez seja fato psicologico e perceptivo mais expressivo que estende as idéias kantianas ao seu máximo rigor empírico: o mundo da perspectiva subjetiva. Você vê o mundo colorido? Relaciona linguagem ou matemática a formas mais abstratas, materializadas em tua mente, no teu mundo real? Talvez nao, mas vê o mundo de uma maneira singular. Mais: sente o mundo de maneira única.
Já deixamos o estado anestésico que forma as massas. Trabalhemos com a sinestésica multidao!
Valeu Silveira, por tirar o monocromo de nossa tela virtual!

terça-feira, 17 de novembro de 2009

A queda do muro de Berlim

Rafael escreveu sobre o primeiro tópico de minha listinha em seu blog pessoal, Atalhos Vertiginos da Lucidez. Uma postagem pra machucar os corações. Reproduzo aqui, na íntegra.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009
Berliner Mauer
Apenas um forte sentimento nostálgico para superar a inércia e jogar a existência numa cartase aristotélica. A inércia, aliás... Nela habitaria meu caos. Menos criativo, mais destrutivo no tatame que escapa aos pés da identidade.
Bornholmer Strasse, 20 anos depois. Cruzei muitas vezes aquela ponte. Fiz caminho semelhante, abandonei por pouco tempo o leste em direcao ao oeste. Distancia tao insignificante no mapa do bairro e tao grande no destino. Aquele leste sempre foi indiscutivelmente mais interessante, mas a proibicao aplicada ao livre movimento exigia forca que promovesse alguma mudanca. Que ao final veio no suicídio de um regime que irremediavelmente sucumbiria pouco mais tarde.
A celebracao de hoje teve algo menos espetacular, muito espontaneo. Melhor ver Angela Merkel ritualizando sua caminhada sobre a ponte de Bornholmer de maneira quase espontânea do que presenciar a queda do muro duas décadas depois numa tentativa de espetacularizar a história e trazê-la para plano atemporal. A Copa do Mundo de 2006 talvez tenha viciado Berlin na esquizofrenia da festa midiática, mas esta cidade é mais potente que as imagens que tentam superficializá-la.
De fato estao todos muito contentes em relembrar que uma contingencia vital foi sanada naquele 9 de novembro de 1989. Mas no fundo desta celebracao existe caladamente uma atmosfera saudosa de tempos em que houve uma sociedade mais solidária e este tempo nao voltará mais. Parece que os outros tantos muros exaltados como merecedores da ruína se transformarao na esperanca de que se constituam em pontes entre passado e futuro a projetar um resgate que nos lance com avidez em um momento menos instável e distante das precariedades material, mental e afetiva.
Os caminhos coletivos e pessoais se confundem em tempos distintos mas num mesmo espaco. As razoes sao algo misteriosas, mas ambos precisam das pontes apropriadas para que um dia possam compartir outra vez o mesmo lugar. Nada menos que aquele "dasein" heidegeriano transmutado no sentimento intraduzível de heimatweh.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Listinhas reflexivas

Não está dando tempo para escrever sobre muitas coisas. Coisas que levam a reflexões contemporâneas! Vou fazer uma listinha:

- 20 anos da queda do muro de Berlim;

- visita da alta comissária da Onu para os direitos humanos;

- artigo do Chico de Oliveira na revista piauí;

- lançamento (hoje) de novo número das revistas Global e Lugar Comum;

- grupo de estudos de O Capital.

sábado, 31 de outubro de 2009

Um carro da polícia


A revista Piauí do mês de outubro publicou o diário de viagem (não sei se completo) de uma estudante polonesa, fazendo pesquisa de campo aqui no Brasil. Sei que a pesquisa era em torno do filme Cidade de Deus e que o que mais interessava à Marysia Wróblewska não era o filme em si, mas as reações a ele.

A publicação do diário já é algo bem bacana, porque não é o resultado de uma pesquisa, mas a pesquisa em movimento. Outra coisa bacana é que o diário mostra as delícias e agonias de estar numa terra tão diferente da nossa. Além disso e muito mais, Marysia acompanhou algumas conferências, palestras, teve conversas, e o conteúdo desses momentos também aparece no diário.

Por conta de muitas coisas que estou vivendo nos dias de hoje, gostaria de reproduzir um trecho que me chamou a atenção.

5 de julho: [...] Em seguida fui até o Museu da República assistir a um debate sobre “A Constituição de 1988: a voz e a letra do Cidadão. [...] O debate foi interessante. As informações que mais me chocaram tinham a ver com ações da polícia. Um dos debatedores lembrou ter aberto, na Espanha, uma palestra sobre segurança pública mostrando a foto de um caveirão do BOPE, sem maiores explicações. Na frente do carro blindado os policiais haviam pintado os dizeres: “Sai da frente, vim buscar sua alma.” Alguém da platéia levantou-se: “Mas é inadmissível que traficantes tenham carros assim!” “Esse é um carro da polícia”esclareceu o palestrante.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Top of Mind 2009

Bizarra a ilustração do encarte "Folha Top of Mind 2009", que acompanhou o jornal de hoje, divulgando o resultado da pesquisa "Top of Mind", do Datafolha.

Um cérebro repleto de palavras, que na realidade são marcas.

Dá para viajar em muitas coisas.

Mas de cara imaginei que a publicidade trabalha mais ou menos assim, mesmo: inscreve marcas em nosso corpo - incluindo nosso cérebro.

É preciso criar a clientela para depois produzir.

Tentarei escanear a imagem para postar amanhã.

Publicidade, capitalismo cognitivo, consumo.

Bizarro.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Fragmentos de um Manifesto

Meu camarada Michel,

Não me parece que você e os grandes capitalistas queiram as mesmas coisas. Parece-me que a tua praia é outra. E que não são a propriedade privada e a acumulação privada de riqueza que te importam.

"A característica distintiva do comunismo não é a abolição da propriedade em geral, mas a abolição da propriedade burguesa. A propriedade privada da burguesia moderna é a expressão final e mais completa do sistema de produção e de apropriação de produtos, que é baseado no antagonismo de classes, na exploração de um homem por outro. Neste sentido, a teoria dos comunistas pode ser resumida em uma sentença: abolição da propriedade privada.

[...]

"Quando, porém, o capital é convertido em propriedade comum, em propriedade de todos os membros da sociedade, a propriedade pessoal não é, de tal modo, transformada em propriedade social. É só o caráter social da propriedade que mudou. Perde o seu caráter de classe."

São dois parágrafos do pequeno-monumental texto O manifesto do partido comunista. Estive às voltas com ele ao longo do último mês e, se não tudo, quase tudo está rabiscado nestas poucas páginas.

Penso em várias coisas. Nas empresas sem fins lucrativos. Nas fábricas reapropriadas pelos trabalhadores. Nas cooperativas e associações da economia solidária. Experiências que parecem testemunhar o esgotamento do capetalismo, este período extremamente obscuro da história da Terra.

Que terminará (ou a Terra, ou o Capital).

Um forte abraço

Silvera

Carta de Michel

Terça-feira, 27 de outubro de 2009.



Caros amigos,



Sempre pensei nas cartas também. Acho que elas nos permitem profundas reflexões sem um certo controle, aquele que ocorre quando escrevemos algum texto em outras áreas. Além de tudo, as cartas carregam o afeto, afinal ,não a escreveríamos para quem não temos afinidade.

Quando leio a epígrafe na sua carta escrita por Antonio Negri, tudo me indica que ele olha o capital de um nível diverso daquele que eu vivo. Como você sabe tenho uma pequena empresa com alguns poucos funcionários, e não é que eles são explorados, pois não me sobra muito dinheiro para fazer coisas que pensamos, como o desenvolvimento de uma escola com educação Multitudinária. De certo modo, eu em minha luta anticapitalista, tento fazer com que a dobra Deleuziana ocorra fazendo com que o capitalismo se dobre sobre si mesmo ao tentar constituir um modelo de empresa onde cada trabalhador posso desenvolver a sua potência na medida que seus desejos pedem passagem. Quando coloco isso como uma premissa, de certo modo parece que o plano de imanência dos trabalhadores foi aprisionado e que suas potências foram oprimidas e tudo que eles enxergam é o egoísmo.

Eu lamento bastante não ter mais nossas conversas, ao mesmo tempo que eu tento mudar o capital, o capital me muda. Ele demanda tempo da minha vida na resoluções de problemas que em nada mudam o caminho da humanidade em direção ao seu fim. Ou seja, o que me resta é um descanso noturno no qual tento ler algumas poucas palavras de pessoas que me façam ver o mundo com um outro olhar. Desse modo minha luta é fazer com que os trabalhadores que comigo caminham juntos nessa jornada tenham uma vida digna para que seus filhos tenham a vida nas mãos.

Espero ter mais de suas cartas para ler, pois elas me levam a escrever também e mover meu campo dos afetos. Espero também que os outros reflexivos possam se manifestar.

Paz

michel

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Carta aos educadores populares [sobre a educação multitudinária]

“A possibilidade de uma gestão justa e igualitária do capital
me parece, todavia, uma idéia tola:
o capital não pode sobreviver sem exploração”
Antonio Negri


Caros companheiros educadores populares,

Há cinco anos o Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Petrópolis iniciou um projeto social chamado Pão & Beleza – Espaço Cidadão. Durante todo este tempo tal experiência não cessa de nos provocar o pensamento, estremecendo nossas certezas e nos convocando a repensar alguns pressupostos e finalidades que sustentam o trabalho.
Há tempos também venho pensando qual seria a melhor maneira de partilhar com vocês, companheiros da luta anticapitalista, estas provocações e abalos. Pensava num artigo, à maneira daqueles produzidos nas universidades. Logo repensei. Pois se trata de partilhar idéias com companheiros, ou seja, pessoas ao mesmo tempo desconhecidas e irmãs. Foi assim que optei por escrever uma carta.
Há uma riqueza única nas cartas, que vai muito além das limitações impostas pela palavra escrita. E cada um dos que já trabalharam com práticas alfabetizadoras saberá do que estou falando. Pois todos certamente já presenciaram a emoção que toma conta de um companheiro-educando quando este redige sua primeira carta, a ser enviada aos filhos, aos netos, aos irmãos, que tornaram-se vagas lembranças, dada a distância espaço-temporal imposta pela migração e pela pobreza.
Gostaria, então, de pedir-lhes licença. A vocês que estão cotidianamente reunidos nos salões paroquiais de tantas igrejas, nos pátios de tantas fábricas abandonadas, nas terras que um dia foram latifúndios improdutivos. Enfim, a vocês que são, ao mesmo tempo, tão estranhos e tão familiares. Licença para contar. Não o dia-a-dia, mas sim o que fomos sendo convocados a pensar por tantos dias decorridos ao longo destes anos.
***
1 – Uma metodologia materialista

Ao final dos anos 1990, a realidade grita às portas do Centro de Defesa dos Direitos Humanos as seguintes palavras: queremos comida! A entidade, em seus vinte anos de existência, tinha como prática assessorar as pessoas empobrecidas em questões muito variadas, inclusive relacionadas à fome. Mas nunca tantas pessoas buscaram-na para pedir comida. Que fazer? Em função desta demanda cria-se o projeto Pão & Beleza – Espaço Cidadão, como resposta de uma instituição de defesa dos direitos humanos à realidade emergencial da fome.
Este enunciado traz ao primeiro plano a metodologia materialista que orienta não apenas o dia-a-dia do projeto, mas as opções da instituição ao longo de seus trinta anos de existência: a realidade é o comandante supremo.
Isto, para a tradição da educação popular, pode parecer lugar comum. Nossos pressupostos e finalidades em geral parecem obedecer a este mesmo comando. E a máxima “partir da realidade dos educandos” só fortalece esta percepção de um materialismo que está à frente da educação popular.
Contudo, o dia-a-dia de nossas ações no projeto Pão & Beleza mostrou que também este lugar comum deve ser colocado sob suspeita. Muitas foram as vezes que nos pegamos fazendo discursos idealizados sobre cada uma das pessoas que participam do projeto, sobre as transformações que pretendíamos realizar sobre a realidade, e sobre o mundo como um todo.
Ao nos darmos conta disto, perguntamos: que é que efetivamente a realidade está exigindo? Serão nossas metodologias, conceitos e intervenções já constituídos aqueles realmente necessários? Precisamos, então, acertar diversos ponteiros entre os sonhos da instituição, de seu projeto e da realidade material das pessoas.

2 – Para além da conscientização: a sensibilização

Desde sua elaboração, o Centro de Defesa dos Direitos Humanos tinha a certeza de que dar comida seria pouco, além de não condizer com a missão institucional. Portanto, inspirando-se no título do livro de Frei Betto, Fome de Pão e de Beleza, pensou-se em unir as ordens da realidade àquilo que a instituição tinha de melhor a oferecer: a educação popular.
Assim é que se constituiu, na cidade de Petrópolis, um espaço que oferecia à população empobrecida uma rede de serviços sócio-assistenciais, educacionais, culturais. Para participar, duas contrapartidas: pagar R$ 1,00 por uma refeição saborosa, nutritiva e de qualidade; participar, uma vez por semana, das atividades dos Grupos de Referência.
Nos primórdios, pensava-se nos Grupos de Referência como espaço privilegiado para realização da educação. Rodas de conversa, dinâmicas pedagógicas, audiência de músicas e filmes, passeios educativos. Todas as atividades prioritariamente áudio-visuais, tendo a fala como principal veículo conscientizador.
Algum tempo se passou e pudemos perceber que todos os espaços eram espaços educativos. Passamos a almoçar junto com as pessoas no refeitório e permanecer junto delas também para bater-papo, partilhar o dia-a-dia, durante sua permanência no espaço. Com isso, a referência deixou de ser o espaço dos grupos e tornou-se o espaço do projeto como um todo.
Este deslocamento espaço-referencial trouxe outro ganho. Pessoas que não davam qualquer “resposta” à metodologia dos Grupos de Referência mostraram cara nova. Gente que não sorria, passou a gargalhar. Gente que mal falava, passou a tagarelar. Gente que mal parecia estar ali, passou a marcar presença. E passamos a nos perguntar: o que isso tudo quer dizer?
Entendemos então que conscientizar é um termo vazio quando seu público é constituído, quase que totalmente, por pessoas em que o funcionamento da consciência é muito pequeno ou inexistente: portadores de sofrimento psíquico, dependentes químicos, moradores de rua (que concentram essas duas características), pessoas que nunca frequentaram a escola, pessoas que vivem em barracos precários, pessoas já há mais de uma década sem rendimentos que correspondam às necessidades.
Passamos a desenvolver práticas de sensibilização, que levavam em consideração as pessoas como realmente se apresentavam, e não como o ideário construído no terreno da educação popular apresentava. E isso é mais que trocar um termo por outro. Sensibilizar leva em consideração que a consciência é apenas uma ínfima parte da humanidade de cada pessoa e não define a condição ontológica cidadã de quem quer que seja.

3 – Ao invés de amassar as singularidades, fazer multidão

Esta condição existencial também nos levou a repensar um dos fundamentos da educação popular: o povo. E também a repensar uma das máximas da organização popular: injetar fermento na massa.
Porque em nosso dia-a-dia de atividades percebemos que tratar os grupos com vistas a fazer massa ou povo resultava em pouco mais que tentativas. Distantes como estávamos de pessoas organizadas em torno do emprego formal “de carteira assinada”, nosso trabalho consistiu em buscar apreender qual elemento comum as mantinha ligadas ao cotidiano do projeto.
Resultado: estávamos diante de uma multidão de pessoas únicas, singularidades, com incontáveis riquezas (não econômicas) sufocadas pelo empobrecimento. E mais: enfraquecidas pela fragmentação provocada por relações que maximizam a exploração da vida em todas as dimensões – onde o único efetivamente beneficiado é o próprio capital.
Estávamos muito mais diante de um pobretariado que de um proletariado! Para onde ir? Nada de fazer povo ou massa, mas sim fazer multidão. Ou seja: provocar processos de singularização, ao invés de identificação; produzir diferenças, ao invés de apagá-las; e ao reconhecer a dimensão imediatamente produtiva dessa multidão de singularidades fragmentadas, fortalecer sua cooperação.
Em outras palavras: potencializar o comum (para além do público e do privado!) e oxigenar a riqueza sufocada pelo empobrecimento (pois é da riqueza dos pobres que se fará a revolução!).

4 – Respostas, não conclusões

E se vocês, meus caros companheiros, nos perguntarem: o que conseguiram com isto?, as respostas podem variar: números, depoimentos, vidas modificadas. Mas a melhor resposta é também a menos conclusiva: conseguimos apenas elementos para orientar melhor os caminhos de nossa prática. Pois trata-se, sobretudo, de tentar responder a uma outra velha pergunta: como esmagar a pobreza e criar um mundo radicalmente democrático e livre da exploração capitalista?
Nossas experiências nos convocaram a buscar respostas diferentes daquelas formuladas no campo da educação popular. Por isto o materialismo, a sensibilização, a multidão. É através desta educação da multidão, desta educação multitudinária, que estamos tentando escrever novas respostas, adequadas a novos tempos.
***
E aqui chego ao fim. Unicamente para relembrar: escrever uma carta foi minha tentativa de chegar o mais próximo possível da palavra falada. Em última instância, o desejo é abrir um diálogo respeitoso e companheiro, com base nestas realidades que nos levaram a repensar, a refletir e a iniciar algo muito diverso de uma crítica – um processo de criação. Aguardarei ansioso pelas palavras daqueles que quiserem ou puderem responder!

Com gratidão, despeço-me com um forte e terno abraço!

Silvio Machado

PS: foram utilizados livremente nesta carta conceitos desenvolvidos principalmente por Antonio Negri e Michael Hardt nos livros Império e Multidão.

domingo, 25 de outubro de 2009

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