quinta-feira, 19 de novembro de 2009

O fim do capitalismo se aproxima

Tenho pensado se devemos combater o capitalismo com as mesmas armas usadas pelos capitalistas para mantê-lo vivo. Disciplina? Trabalho identificado ao tempo de vida? Definir objetivos e alcançá-los a qualquer preço? E a preguiça? E o tempo de brincar? E o tempo de viver? Já diziam alguns anarco-hippies: existe uma diferença entre vida e sobrevida!!!

Estou animado porque me dei conta, através de algumas leituras e cursos, de que o capitalismo corresponde a uma ínfima parte da vida na Terra. Muito animado mesmo. Por isso vou postar uma pequena resposta do Anselm Jappe, concecida ao site IHU, que tem me animado a buscar os caminhos para efetuar uma história diferente.

IHU On-Line - Por que afirma que o capitalismo é apenas um parêntese na história humana?

Anselm Jappe – Trata-se de uma formulação polêmica, porque o capitalismo existe há, no mínimo, 200 anos nos países desenvolvidos como Inglaterra. Há antecedentes do capitalismo na época da Renascença, remontando ao século XIV. Disse que o capitalismo é um parêntese na história para fazer uma objeção à apologia atual que o vê como uma realização necessária de toda a história. Critico a ideia de que a humanidade e a evolução avançam para algo melhor, e que o capitalismo seria uma espécie de apogeu da humanidade, uma forma de sociedade e de economia que vai permanecer para sempre. Muitas vezes, as apologias do capitalismo são feitas apresentando a democracia como uma forma finalmente encontrada para o convívio dos seres humanos. Assistimos, então, a uma espécie de ontologização do capitalismo. Isso consiste em dizer que pode haver diferentes modelos de capitalismo, mas ele se mantém no mesmo enquadramento do valor, do dinheiro, da democracia e do Estado. Não é apenas o pensamento burguês, mas boa parte também do pensamento que se proclama ser de esquerda, que se converteu a essa ontologização do capitalismo, incapaz de imaginar algo diferente.

Com todas as mudanças propostas, pensam, mesmo assim, se permanecerá numa lógica capitalista ou se não volta a se cair na barbárie e no caos. Muitos daqueles que criticam o capitalismo hoje (como os altermundialistas e associações como a ATTAC e todas aquelas pessoas que se encontram na cúpula do Fórum de Porto Alegre) não o criticam verdadeiramente, porque se limitam a criticar o liberalismo, propondo, como alternativa, um capitalismo mais mitigado.

Em oposição a essa eternização do capitalismo é que falo de um parêntese, dizendo que esse sistema foi o rompimento absoluto com todas as sociedades pré-capitalistas. O capitalismo não é apenas uma sociedade entre outras, constitui-se a fratura mais fundamental da história da humanidade, principalmente porque introduziu um dinamismo e uma orientação que estavam ausentes nas sociedades precedentes, que eram mais estáticas.

O capitalismo não é um destino inevitável

A partir disso, uma das principais características do capitalismo é a resistência ao fato de que a atividade social se entenda como trabalho, e o trabalho como valor, e o valor como dinheiro. Então, tudo isso não é natural, histórico e eterno. Tudo isso veio ao mundo com o capitalismo. Aliás, essa não é uma afirmação de Marx, somente. Há estudos de Marcel Mauss e Karl Polanyi que mostraram o caráter radicalmente diferente das sociedades antes do capitalismo. Não estou falando apenas em sociedade etnológica, como Polanyi demonstrou que, no século XVII, havia lógicas sociais bem diferentes, ou como Thompson demonstrou em sua obra clássica, A formação da classe trabalhadora na Inglaterra.

Tudo isso permite demonstrar os diferentes pontos de vista, não somente marxistas, de que o traço fundamental do capitalismo não é algo natural do ser humano, mas pertence apenas a uma fase determinada da história humana. Deste ponto de vista, podemos dizer que o capitalismo é apenas uma fase da humanidade, e assim como veio ao mundo, pode, também, desaparecer. É claro que não quero dizer que o capitalismo seja um simples “incidente” depois do qual se podem mudar muitas coisas. Essa expressão mostra, simplesmente, que o capitalismo não é, necessariamente, um destino inevitável.
E quando falo em parêntese, não significa que havia uma espécie de sociedade feliz, e o capitalismo chegou como uma “erupção do mal”, e que esse parêntese vai se fechar para reencontrar uma espécie de felicidade. Isso seria muito bom, mas não é o que acontece. O capitalismo vai terminar, e já estamos observando esse fim. Não é algo que irá acontecer de um dia para o outro, mas os sinais de esgotamento são visíveis.

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