terça-feira, 17 de novembro de 2009

A queda do muro de Berlim

Rafael escreveu sobre o primeiro tópico de minha listinha em seu blog pessoal, Atalhos Vertiginos da Lucidez. Uma postagem pra machucar os corações. Reproduzo aqui, na íntegra.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009
Berliner Mauer
Apenas um forte sentimento nostálgico para superar a inércia e jogar a existência numa cartase aristotélica. A inércia, aliás... Nela habitaria meu caos. Menos criativo, mais destrutivo no tatame que escapa aos pés da identidade.
Bornholmer Strasse, 20 anos depois. Cruzei muitas vezes aquela ponte. Fiz caminho semelhante, abandonei por pouco tempo o leste em direcao ao oeste. Distancia tao insignificante no mapa do bairro e tao grande no destino. Aquele leste sempre foi indiscutivelmente mais interessante, mas a proibicao aplicada ao livre movimento exigia forca que promovesse alguma mudanca. Que ao final veio no suicídio de um regime que irremediavelmente sucumbiria pouco mais tarde.
A celebracao de hoje teve algo menos espetacular, muito espontaneo. Melhor ver Angela Merkel ritualizando sua caminhada sobre a ponte de Bornholmer de maneira quase espontânea do que presenciar a queda do muro duas décadas depois numa tentativa de espetacularizar a história e trazê-la para plano atemporal. A Copa do Mundo de 2006 talvez tenha viciado Berlin na esquizofrenia da festa midiática, mas esta cidade é mais potente que as imagens que tentam superficializá-la.
De fato estao todos muito contentes em relembrar que uma contingencia vital foi sanada naquele 9 de novembro de 1989. Mas no fundo desta celebracao existe caladamente uma atmosfera saudosa de tempos em que houve uma sociedade mais solidária e este tempo nao voltará mais. Parece que os outros tantos muros exaltados como merecedores da ruína se transformarao na esperanca de que se constituam em pontes entre passado e futuro a projetar um resgate que nos lance com avidez em um momento menos instável e distante das precariedades material, mental e afetiva.
Os caminhos coletivos e pessoais se confundem em tempos distintos mas num mesmo espaco. As razoes sao algo misteriosas, mas ambos precisam das pontes apropriadas para que um dia possam compartir outra vez o mesmo lugar. Nada menos que aquele "dasein" heidegeriano transmutado no sentimento intraduzível de heimatweh.

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